10ª CRASH: MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA FANTÁSTICO
TRASH AGORA É CRASH. E CRASH É RESISTÊNCIA!
No catálogo da TRASH 2017, já advertíamos: “De trash, na TRASH, só o nome. Logo mais, nem isso. É um festival internacional de cinema fantástico de qualidade irrepreensível, feito por e para quem ama cinema.”
Cumprimos a promessa. A partir desta emblemática 10ª edição, nosso festival passa a se chamar CRASH: MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA FANTÁSTICO. O espírito continua o mesmo: o melhor do cinema internacional de terror, ficção científica e fantasia. Mas por que CRASH?
Em primeiro lugar, CRASH remete a uma ideia de quebra, ruptura. Há algo de potente e dinâmico nesta expressão – tão utilizada como onomatopeia nas histórias em quadrinhos. Quebra, ruptura, potência e dinamismo estão no cerne do tipo de cinema que buscamos trazer à tela do festival. Por outro lado, para quem nos acompanha desde o princípio, é moleza estabelecer uma associação com a velha alcunha TRASH. Ou seja, a CRASH é, sim, um rompimento – mas daqueles que não vira as costas para tudo que foi construído no passado.
Esta é a terceira edição consecutiva em que assumimos o cinema de gênero como alma da mostra. E isso jamais foi tão pertinente. O Brasil vive dias sombrios – com o futuro se revelando ainda mais negro e assustador. Em panoramas similares, o cinema fantástico sempre ofereceu respostas à altura dos dilemas de sua época.
Em películas como Nosferatu, O Gabinete do Dr. Caligari e Metrópolis, o expressionismo alemão anteviu e fez contundentes alertas à chegada do nazismo. Durante as décadas de 50 e 60, os filmes B americanos trataram de forma única o macarthismo, a Guerra Fria e a paranoia nuclear. O cinema fantástico tem, portanto, essa inesgotável capacidade de problematizar questões que nos afligem hoje. É o que o emblemático escritor de ficção científica Philip K. Dick chamaria de “choque de desreconhecimento”: a crítica da própria sociedade através das alegorias criadas por obras que distorcem a realidade tal e qual a vemos a olho nu.
Este é o viés da 10ª CRASH: crítica e resistência. Para isso, reunimos um assombroso time de curadores, formado pelos especialistas Carlos Primati e Beatriz Saldanha. Juntaram-se a eles o mitológico cineasta udigrudi Gurcius Gewdner e o irremediável cinéfilo André LDC. O resultado é uma mostra verdadeiramente fantástica – com um total de 74 filmes, vindos de 21 países – que diverte ao mesmo tempo que escarafuncha nossas mais terríveis mazelas contemporâneas. Fascismo, tortura, homofobia, regimes ditatoriais, repressão sexual, autoritarismo e violência são dissecados através das lentes do terror, da ficção científica e da fantasia.
A 10º CRASH, contudo, não está restrita apenas à ousadia e coragem de sua vigorosa curadoria. Ao longo do evento teremos ainda debates, oficinas e lançamentos, compondo um verdadeiro mosaico do cinema de gênero, que se transmuta em ponto de encontro de todos aqueles que enxergam na arte um campo de luta e resistência.
Que venham os pesadelos. Estamos mais que preparados para eles.
Márcio Júnior & Márcia Deretti
Diretores - CRASH 2018